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Stent não reduz risco de infarto: mito ou verdade?


Desconstruindo um conceito na cardiologia

Desconstruindo um conceito na cardiologia

Olá pessoal, tudo bem com vocês? Eu espero que sim. Muitas coisas estão acontecendo e precisei parar um pouquinho com o canal, mas estamos voltando com tudo!

O vídeo de hoje eu quero desconstruir um conceito. É algo que, infelizmente, até cardiologistas têm dificuldade em assimilar. O caso é o seguinte: vamos pensar em um paciente que realizou um cateterismo e neste cateterismo vimos que ele tem uma obstrução de 90% em uma artéria coronária importante. O que vem na nossa cabeça imediatamente é: “Vamos fazer uma angioplastia, ou seja, vamos colocar um stent e desobstruir essa artéria”. Acontece, pessoal, que este raciocínio está errado.

Antes, vamos pensar que existem dois contextos completamente diferentes:

  • O primeiro é o paciente que está tendo uma síndrome coronariana aguda. Este paciente geralmente procura o pronto socorro porque está tendo uma dor ou desconforto qualquer importante, e precisa de repouso. Este paciente pode estar tendo um enfarto. Nesses casos, sim, muitas vezes se ele fizer um cateterismo e descobrir uma obstrução grave como aquela que descrevemos (90%), ele deve sim colocar um stent e desobstruir a artéria.
  • Agora, o segundo caso totalmente distinto se refere a um paciente que não tem uma síndrome coronariana aguda. Este paciente geralmente não vai ao pronto socorro, ele vai ao consultório médico, muitas vezes queixando de uma dor no peito quando ele faz alguma atividade física. Durante a investigação dessa dor de uma forma eletiva consciente, acaba fazendo um cateterismo e descobrindo uma obstrução grave. Nesse caso, pessoal, é que está o grande equívoco, porque na medicina atual colocar ou não colocar um stent nesses casos não interfere na sua chance de infartar ou morrer de causas cardíacas.

Mas você vai me perguntar: “Mas o paciente tem uma obstrução de 90% em uma artéria, e não vamos fazer nada?” Não é não fazer nada, existem uma série de medidas que podemos tomar para reduzir as chances de infarto, inclusive são um assunto recorrente aqui no canal e também nas minhas redes sociais. Porém, fazer a sua parte, ou seja, colocar o stent, não está entre essas medidas. Isso tudo foi provado por diversos estudos diferentes envolvendo milhares de pessoas ao redor do mundo. O mais famoso dos estudos foi o CURA publicado em 2007. Passou mais de dez anos. Este estudo envolveu mais de dois mil e duzentos pacientes.

O estudo dividiu e comparou duas estratégias diferentes para casos semelhantes ao que descrevi: pacientes que sabiamente tinham uma doença das artérias coronárias, porém fora do contexto de síndrome coronariana aguda. Um grupo faria angioplastia e colocaria um stent nas lesões encontradas, além de fazer tratamento medicamentoso. O outro grupo faria apenas o tratamento medicamentoso. O resultado foi que não houve nenhuma diferença entre os grupos com relação à chance de infarto ou morte.

O CURA foi apenas um entre diversos outros estudos que também mostraram a mesma coisa. Ou seja, cientificamente é um conceito bem estabelecido, mas nós estamos cansados de ver aquela velha receita de bolo: o médico solicita um teste momentâneo que o paciente, muitas vezes assintomático, cujo resultado é positivo para a isquemia (aquela isquemia silenciosa). Daí o paciente é encaminhado para um cateterismo que mostra uma estenose coronária. Então, aí, o paciente recebe a sua angioplastia com o moderno stent coronário. Dias depois, ele tem alta hospitalar feliz por ter tido a sua vida salva pelo procedimento. Porém, mal sabe ele que esse procedimento não contribuiu positivamente em nada.

Evitar o procedimento desnecessário traz vantagens: prevenir o estresse psíquico relacionado a um internamento, evita complicações comuns desses procedimentos, tais como hematomas (alguns até com necessidade de transfusão), agressão renal relacionada ao contraste, sem falar na economia de recursos do sistema de saúde. Até Obama já falou sobre isso quando de sua visita ao América Médico-Social em 2008. Ele foi peça pois é isso o que é esse respeito já sido bem esperta e melhor com menos de 21 ossos.

Então é isso, pessoal. Eu queria desconstruir um raciocínio errado que muitos pacientes e muitos médicos também têm relacionados à angioplastia. Vamos falar mais sobre esse assunto em outros vídeos. Um grande abraço a todos. Se inscrevam no canal e deixe seu comentário. Muito obrigado!

Fonte: Colocar um Stent não diminui sua chance de infarto! por Manual Do Paciente

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