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Resistência bacteriana: causas e consequências em pauta | Coluna #109

Uso Consciente de Antibióticos

Em 1941, o policial inglês Albert Alexander estava hospitalizado com o rosto coberto por abscessos que treinavam puxa. Fazia dois meses que lutava contra uma infecção e já havia perdido um olho por conta das bactérias. Ele era um caso perdido, mas por isso mesmo o candidato perfeito para a penicilina, o primeiro antibiótico da história que até então só havia sido testado em ratos. Com uma única dose de penicilina na veia, em 24 horas, a febre de Alexander começou a baixar e a infecção regrediu.

Infelizmente, a penicilina ainda não era um medicamento disponível e, em tempos de contenção como a Segunda Guerra Mundial, os médicos não conseguiram obter mais nenhuma dose da substância. Alexander teve uma recaída e acabou morrendo no mês seguinte. Ainda assim, aquela foi a primeira demonstração em humanos de que a penicilina seria um marco na história da medicina. Desde então, muitos antibióticos surgiram e passaram a ser usados largamente.

E o problema agora é justamente esse uso largamente. Que nunca chegou num pronto socorro como a dor de garganta e saiu com uma receita para um antibiótico. Tem gente até que já vai esperando a prescrição e fica bravo se o médico não receita. Precisamos mudar essa cultura com urgência. Os antibióticos formam uma classe de medicamentos fundamental, só que os organismos que eles combatem também são bons de guerra. As bactérias evoluem e desenvolvem uma série de armas para resistir aos antibióticos e, pior, elas podem transmitir entre si os genes responsáveis pela resistência.

  • Então, se uma consegue evoluir para se tornar resistente, outras podem simplesmente adquirir o gene que confere resistência.

A partir dessa primeira, nós vivemos uma situação bastante delicada. Combater as bactérias é também uma oportunidade para se fortalecer e evolução em seu estado mais puro. Talvez você veja de vez em quando no noticiário alguma pessoa que foi infectada por uma bactéria super resistente. Parece um problema distante pra você. No Brasil, 23 mil pessoas morrem todos os anos vítimas dessas bactérias. Existente no mundo, a estimativa é que esse número chegue a 700 mil e a projeção é que, no caminho que estamos trilhando com prescrições sem critério e tratamentos incompletos, até 2050 esse número chegue a 10 milhões.

Para dar uma referência para a comparação, atualmente o câncer mata cerca de 8 milhões de pessoas todos os anos. Facilitar a resistência bacteriana também pesa financeiramente para o sistema de saúde. Só nos Estados Unidos, internações e tratamentos de infecções resistentes custam 20 bilhões de dólares por ano. 20 bilhões.

Aquele policial que eu contei a história no começo do vídeo sabe como foi o início da infecção dele: ele se barrou o rosto com um espinho de uma planta no jardim de casa. Não podemos voltar a esses tempos. O uso consciente de antibióticos deve ser uma prioridade. Vamos ver no próximo vídeo algumas iniciativas e como todos nós precisamos fazer a nossa parte.

Fonte
O problema da resistência bacteriana | Coluna #109 por Drauzio Varella